GARRINCHA – O CHARLES CHAPLIN DO FUTEBOL (OU DEUS DRIBLA CERTO COM PERNAS TORTAS)
Garrincha, em 1962, no Chile
Tarde de
domingo, Maracanã lotado para o jogo Botafogo x Flamengo. O barulho
ensurdecedor das cornetas das várias torcidas organizadas; o barulho
passante dos trens na estação do Dérby Clube e o ainda admirável ir e
vir de quem chega ao Estádio Mário Filho para ver, mais uma vez, não uma
ópera futebolística, mas um show onde todos se transformam em apenas
dois: de um lado, o apavorado, preocupado e nervoso Jordan e, do outro, o
amolecado, alegre e risonho Garrincha se preparam para um duelo do qual
já se sabe, antecipadamente, quem será o vencedor.
O grupo rubro-negro entra
primeiro em campo e o foguetório pode ser ouvido em Cascadura, na Praça
da Bandeira, na Praça Saens Peña e até na Central do Brasil, que não
ficam tão próximos nem tão distantes do Maracanã. Tarde de gala. Menos
para o preocupado Jordan.
Surge o alvinegro, capitaneados
por Nilton Santos – considerado por muitos um homem de muita sorte no
futebol por nunca ter enfrentado o compadre Garrincha – trazendo ainda
Paulo Valentim, Didi, Pampolini, Paulistinha e tantos que formavam a
constelação aplaudida aqui e alhures até pelo cachorro Biriba.
Finalmente, com sorriso de
orelha a orelha, surge o astro. Surge Mané, que, enquanto os
companheiros passaram o dia e a noite anterior concentrados, ele, no
povoado Pau Grande, município de Magé, sem qualquer preocupação, caçava
passarinhos – esquecendo que, na tarde dominical, no Maracanã, se
transformaria na caça.
Garrincha marcado por 8 adversários (pode contar) – e saiu-se bem!
O árbitro Eunápio de Queiroz
autoriza o início do jogo. Bola que vai, bola que vem. Flamengo vai ao
ataque e Henrique Frade perde a bola para Pampolini, que serve a Didi.
Um toque do Mestre, e mais outro toque, enquanto procurava espaço para o
lançamento. Não há espaço. Fleitas Solich mandou fechar todos e até
Dequinha recebera ordens para não ir tanto à frente.
De repente, com praticando mais
uma mágica, Didi resolve lançar para a ponta-direita. A bola, sob a
vista e a expectativa dos mais de 100 mil torcedores, cai num pequeno
espaço onde estava Garrincha. O moleque amortece a bola na coxa, pisa
sobre ela. Pára. Na sua frente, já com ares de vencido e driblado, surge
Jordan. Mané balança para a direita – era sempre assim – e Jordan
acompanha, como se naquele momento dançasse um tango argentino. Mané
balança para a esquerda e Jordan, de novo, acompanha. Como um bólido,
Mané como sempre fez, sai pela direita, enquanto Jordan ainda estava na
esquerda. Jordan fica, Mané vai. O estádio quase vem abaixo. Mané cruza
milimetricamente para Paulo Valentim que, com ares de preciosidade,
manda a bola para as redes. Gol do Botafogo. Gol de Paulinho Valentim e,
ninguém discorda, gol de Garrincha.
Uma poesia eterna. Uma vitória
depois de um drible que, em vez de desmoralizar, valorizava o marcador,
Jordan, Altair, Bauer, quase todos passaram a ser chamados do João.
Joões do Mané.
Manuel Francisco dos Santos, o
Mané Garrincha ou simplesmente Garrincha nasceu e viveu infância e
juventude no povoado Pau Grande, em Magé, a 28 de outubro de 1933, no
Rio de Janeiro, e faleceu no mesmo Rio de Janeiro, a 20 de janeiro de
1983, ) se notabilizou por seus dribles desconcertantes apesar de ter
suas pernas tortas.
É considerado por muitos como o
maior jogador de futebol de todos os tempos. No auge da carreira, passou
a assinar Manuel dos Santos, em homenagem a um tio homônimo, que muito o
ajudou. Garrincha também é amplamente considerado como o maior
driblador da história do futebol.
Garrincha, “O Anjo de Pernas
Tortas”, foi um dos heróis da conquista da Copa do Mundo de 1958 e,
principalmente, da Copa do Mundo de 1962 quando, após a contusão de
Pelé, se tornou o principal jogador do time brasileiro. A força do seu
carisma ficou marcada rapidamente nas palavras do poeta de Itabira,
Carlos Drummond de Andrade, numa crônica publicada no Jornal do Brasil,
no dia 21 de janeiro de 1983, um dia após a morte do genial Garrincha:
Se há um Deus que regula o
futebol, esse Deus é sobretudo irônico e farsante, e Garrincha foi um de
seus delegados incumbidos de zombar de tudo e de todos, nos estádios.
Mas, como é também um Deus cruel, tirou do estonteante Garrincha a
faculdade de perceber sua condição de agente divino. Foi um pobre e
pequeno mortal que ajudou um país inteiro a sublimar suas tristezas. O
pior é que as tristezas voltam, e não há outro Garrincha disponível.
Precisa-se de um novo, que nos alimente o sonho. (Carlos Drummond de
Andrade).
Charles Chaplin, numa cena clássica do filme “O Grande Ditador”
“A coisa mais injusta sobre a
vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da
vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos
livrar logo disso.
Daí viver num asilo, até ser
chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e
ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra
poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante
álcool, faz festas e se prepara para a faculdade.
Você vai para colégio, tem
várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se
torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos
nove meses de vida flutuando. E termina tudo com um ótimo orgasmo! Não
seria perfeito?” – Charles Chaplin.
Sir Charles Chaplin, ícone mundial do cinema
Sir Charles Spencer Chaplin,
KBE, mais conhecido como Charlie Chaplin nasceu em Londres, a 16 de
abril de 1889 e faleceu em Corsier-sur-Vevey, a 25 de dezembro de 1977.
Foi um ator, diretor, produtor, humorista, empresário, escritor,
comediante, dançarino, roteirista e músico britânico.
Chaplin foi um dos atores mais
famosos da era do cinema mudo, notabilizado pelo uso de mímica e da
comédia pastelão. É bastante conhecido pelos seus filmes O Imigrante, O
Garoto, Em Busca do Ouro (este considerado por ele seu melhor filme), O
Circo, Luzes da Cidade, Tempos Modernos, O Grande Ditador, Luzes da
Ribalta, Um Rei em Nova Iorque e A Condessa de Hong Kong.
Influenciado pelo trabalho dos
antecessores – o comediante francês Max Linder, Georges Méliès, D. W.
Griffith Luís e Auguste Lumière – e compartilhando o trabalho com
Douglas Fairbanks e Mary Pickford, foi influenciado pela mímica,
pantomima e o gênero pastelão e influenciou uma enorme equipe de
comediantes e cineastas como Federico Fellini, Os Três Patetas, Peter
Sellers, Milton Berle, Marcel Marceau, Jacques Tati, Rowan Atkinson,
Johnny Depp, Michael Jackson, Harold Lloyd, Buster Keaton e outros
diretores e comediantes. É considerado por alguns críticos o maior
artista cinematográfico de todos os tempos, e um dos “pais do cinema”,
junto com os Irmãos Lumière, Georges Méliès e D.W. Griffith.
Nenhum comentário:
Postar um comentário