domingo, 23 de setembro de 2012

ENXUGANDOGELO - José de Oliveira Ramos (BESTA FUBANA)

GARRINCHA – O CHARLES CHAPLIN DO FUTEBOL (OU DEUS DRIBLA CERTO COM PERNAS TORTAS)

Garrincha, em 1962, no Chile
Tarde de domingo, Maracanã lotado para o jogo Botafogo x Flamengo. O barulho ensurdecedor das cornetas das várias torcidas organizadas; o barulho passante dos trens na estação do Dérby Clube e o ainda admirável ir e vir de quem chega ao Estádio Mário Filho para ver, mais uma vez, não uma ópera futebolística, mas um show onde todos se transformam em apenas dois: de um lado, o apavorado, preocupado e nervoso Jordan e, do outro, o amolecado, alegre e risonho Garrincha se preparam para um duelo do qual já se sabe, antecipadamente, quem será o vencedor.
O grupo rubro-negro entra primeiro em campo e o foguetório pode ser ouvido em Cascadura, na Praça da Bandeira, na Praça Saens Peña e até na Central do Brasil, que não ficam tão próximos nem tão distantes do Maracanã. Tarde de gala. Menos para o preocupado Jordan.
Surge o alvinegro, capitaneados por Nilton Santos – considerado por muitos um homem de muita sorte no futebol por nunca ter enfrentado o compadre Garrincha – trazendo ainda Paulo Valentim, Didi, Pampolini, Paulistinha e tantos que formavam a constelação aplaudida aqui e alhures até pelo cachorro Biriba.
Finalmente, com sorriso de orelha a orelha, surge o astro. Surge Mané, que, enquanto os companheiros passaram o dia e a noite anterior concentrados, ele, no povoado Pau Grande, município de Magé, sem qualquer preocupação, caçava passarinhos – esquecendo que, na tarde dominical, no Maracanã,  se transformaria na caça.
Garrincha marcado por 8 adversários (pode contar) – e saiu-se bem!
O árbitro Eunápio de Queiroz autoriza o início do jogo. Bola que vai, bola que vem. Flamengo vai ao ataque e Henrique Frade perde a bola para Pampolini, que serve a Didi. Um toque do Mestre, e mais outro toque, enquanto procurava espaço para o lançamento. Não há espaço. Fleitas Solich mandou fechar todos e até Dequinha recebera ordens para não ir tanto à frente.
De repente, com praticando mais uma mágica, Didi resolve lançar para a ponta-direita. A bola, sob a vista e a expectativa dos mais de 100 mil torcedores, cai num pequeno espaço onde estava Garrincha. O moleque amortece a bola na coxa, pisa sobre ela. Pára. Na sua frente, já com ares de vencido e driblado, surge Jordan. Mané balança para a direita – era sempre assim – e Jordan acompanha, como se naquele momento dançasse um tango argentino. Mané balança para a esquerda e Jordan, de novo, acompanha. Como um bólido, Mané como sempre fez, sai pela direita, enquanto Jordan ainda estava na esquerda. Jordan fica, Mané vai. O estádio quase vem abaixo. Mané cruza milimetricamente para Paulo Valentim que, com ares de preciosidade, manda a bola para as redes. Gol do Botafogo. Gol de Paulinho Valentim e, ninguém discorda, gol de Garrincha.
Uma poesia eterna. Uma vitória depois de um drible que, em vez de desmoralizar, valorizava o marcador, Jordan, Altair, Bauer, quase todos passaram a ser chamados do João. Joões do Mané.
Manuel Francisco dos Santos, o Mané Garrincha ou simplesmente Garrincha nasceu e viveu infância e juventude no povoado Pau Grande, em Magé, a 28 de outubro de 1933, no Rio de Janeiro, e faleceu no mesmo Rio de Janeiro, a 20 de janeiro de 1983, ) se notabilizou por seus dribles desconcertantes apesar de ter suas pernas tortas.
É considerado por muitos como o maior jogador de futebol de todos os tempos. No auge da carreira, passou a assinar Manuel dos Santos, em homenagem a um tio homônimo, que muito o ajudou. Garrincha também é amplamente considerado como o maior driblador da história do futebol.
Garrincha, “O Anjo de Pernas Tortas”, foi um dos heróis da conquista da Copa do Mundo de 1958 e, principalmente, da Copa do Mundo de 1962 quando, após a contusão de Pelé, se tornou o principal jogador do time brasileiro. A força do seu carisma ficou marcada rapidamente nas palavras do poeta de Itabira, Carlos Drummond de Andrade, numa crônica publicada no Jornal do Brasil, no dia 21 de janeiro de 1983, um dia após a morte do genial Garrincha:
 Se há um Deus que regula o futebol, esse Deus é sobretudo irônico e farsante, e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos de zombar de tudo e de todos, nos estádios. Mas, como é também um Deus cruel, tirou do estonteante Garrincha a faculdade de perceber sua condição de agente divino. Foi um pobre e pequeno mortal que ajudou um país inteiro a sublimar suas tristezas. O pior é que as tristezas voltam, e não há outro Garrincha disponível. Precisa-se de um novo, que nos alimente o sonho. (Carlos Drummond de Andrade).
Charles Chaplin, numa cena clássica do filme “O Grande Ditador”
“A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso.
Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade.
Você vai para colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando. E termina tudo com um ótimo orgasmo! Não seria perfeito?” – Charles Chaplin.
Sir Charles Chaplin, ícone mundial do cinema
Sir Charles Spencer Chaplin, KBE, mais conhecido como Charlie Chaplin nasceu em Londres, a 16 de abril de 1889 e faleceu em Corsier-sur-Vevey, a 25 de dezembro de 1977. Foi um ator, diretor, produtor, humorista, empresário, escritor, comediante, dançarino, roteirista e músico britânico.
Chaplin foi um dos atores mais famosos da era do cinema mudo, notabilizado pelo uso de mímica e da comédia pastelão. É bastante conhecido pelos seus filmes O Imigrante, O Garoto, Em Busca do Ouro (este considerado por ele seu melhor filme), O Circo, Luzes da Cidade, Tempos Modernos, O Grande Ditador, Luzes da Ribalta, Um Rei em Nova Iorque e A Condessa de Hong Kong.
Influenciado pelo trabalho dos antecessores – o comediante francês Max Linder, Georges Méliès, D. W. Griffith Luís e Auguste Lumière – e compartilhando o trabalho com Douglas Fairbanks e Mary Pickford, foi influenciado pela mímica, pantomima e o gênero pastelão e influenciou uma enorme equipe de comediantes e cineastas como Federico Fellini, Os Três Patetas, Peter Sellers, Milton Berle, Marcel Marceau, Jacques Tati, Rowan Atkinson, Johnny Depp, Michael Jackson, Harold Lloyd, Buster Keaton e outros diretores e comediantes. É considerado por alguns críticos o maior artista cinematográfico de todos os tempos, e um dos “pais do cinema”, junto com os Irmãos Lumière, Georges Méliès e D.W. Griffith.

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