quinta-feira, 19 de abril de 2012

O JUMENTO A CAMINHO DA EXTINÇÃO



O jumento sempre foi
vítima de atrocidades
perpetradas pelo homem
em suas atividades,
apesar do animal ter
tantas boas qualidades.
A presença desse bicho
vem de séculos passados,
pois já no antigo Egito
eram muito utilizados,
sendo em cosequência disso
bastante valorizados.
Trata-se de um quadrúpede
que tem no dorso uma cruz.
Tornou-se animal sagrado
e a essa expressão fez jus,
desde quando para o Egito
levou em fuga Jesus.
Um bom jegue nunca deixa
o dono na contramão,
está pronto pra servir
em qualquer ocasião.
Faça sol ou caia chuva,
há sempre um burro em ação.
Foi montado num jerico
que Jesus Cristo também,
à frente da multidão
entrou em Jerusalém,
cumprindo o santo destino,
a bíblia registra bem.
Não dá para imaginar
o Nordeste sem jumento,
pois aqui ele chegou
desde o descobrimento
com trabalho garantido
em todo acontecimento.
Material de construção:
tijolo, telha, cimento,
areia, pedra, água, cal
e todo madeiramento,
tudo isso foi transportado
no espinhaço do jumento.
O burrico transportou
a colheita do roçado,
serviu até de relógio
com rincho cronometrado
e ainda pra cobrir égua
quando não era castrado.
(2)
Também carregou mudança
e muitos outros artigos
que a toda parte chegavam,
graças aos jegues amigos
com suas pesadas cargas
levadas sob castigos.
Na construção das pequenas
cidades do interior,
o jerico ofereceu
trabalho de alto valor,
carregando sem descanso
fretes para seu senhor.
A grande contribuição
dada por esse animal
para o desenvolvimento
do Nordeste foi total.
Sendo assim, mereceria
tratamento especial.
Pelas patas desse bicho
o progresso caminhou.
Aos lugares mais distantes
a sua carga chegou.
Triste é saber que afinal,
com o progresso, definhou.
(3)
Muita gente exerce ainda
a função de carroceiro
e assegura que o burrico
é um grande companheiro,
sendo sua principal
fonte de ganhar dinheiro.
Em toda parte há carroça
movida à tração de jegue,
pois não existe lugar
aonde ele não trafegue,
Até pode ser extinto,
mas seu valor há quem negue?
Esse animal já foi ótimo
meio de locomoção,
transportando suas cargas
no inverno ou no verão
para atender a demanda
de toda uma região.
Mas o progresso que o asno
ajudou consolidar
veio de encontro a si próprio
(paradoxo singular!),
já que o desenvolvimento
pode com ele acabar.
(4)
O fato é que o burro está
totalmente descartado,
não tem mais nenhum cartaz,
seu trabalho é rejeitado,
por isso há tanto animal
sem serventia, encostado.
O bicho perdeu espaço
para moto e bicicleta,
automóvel e outros meios
e, pra desgraça completa,
ninguém mais atualmente
jegue pra transporte freta.
Assim, tem preço aviltado
na conjuntura atual,
já que a sua cotação
em moeda nacional,
infelizmente, não passa
de um mísero real.
Outrora era o burrico
um animal bem distinto.
Trabalhador como ele,
se disser que existiu, minto.
Portanto, não se admite
que o bichinho seja extinto.
(5)
Ele jamais recebeu
de ninguém qualquer carinho.
Pelos serviços prestados,
só ganhou, o pobrezinho,
como retribuição,
cangalha e pau no focinho.
Para aumentar os maus-tratos,
outra forma bem tirana
de judiar do coitado
é a prática da jecana
em que o bicho é castigado
de maneira desumana.
Conduzindo alguém no lombo,
um magote de animais
é obrigado a correr,
apanhando mais e mais,
durante toda a corrida
para vencer os rivais.
Porém não se vê ninguém,
pessoa nem entidade,
que essa prática proíba,
onde impera a crueldade
contra animais indefesos
na maior impunidade!
(6)
Jumento se reproduz
com muita facilidade,
uma vez que é alta a sua
taxa de fertilidade.
E a multidão de asininos
só aumenta, na verdade.
Com jerico na estrada,
o número de acidente
envolvendo o dito cujo
tem sido surpreendente,
provocando prejuízos
e matando muita gente.
Mas, falando nesse bicho,
é bom deixar registrado
que em determinada época
ele foi sacrificado
pra virar carne de charque
e abastecer o mercado.
Só que, antes do abate
(terrível realidade),
perante à indiferença
de toda a sociedade,
sujeitava-se o quadrúpede
a um ritual de maldade.
(7)
Cortavam-se as quatro patas,
num processo primitivo,
a fim de escorrer o sangue
do animal ainda vivo,
pois dava melhor sabor
no ato degustativo.
Transformada a carne em mantas,
era o produto embalado
e para o exterior
rapidamente exportado,
deixando algumas pessoas
com o bolso recheado.
Enfim, alguém interveio
e o tal negócio desfez.
Foi proibida a matança
de jumentos de uma vez,
produzindo no mercado
de charque grande escassez.
Diz a Lei que maltratar
os animais, dá cadeia.
Pena: três meses a um ano,
além de multa e até “peia”.
Se houver morte, aumenta a pena
e a coisa então fica feia…
Bom Jardim, setembro/2007.

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